Era um festum animado, muita música, os atabaques entoando sem cessar.
Lá estava ela, num cantinho, com sua navalha numa mão, o cigarro aceso na outra.
Até que uma mulher da assistência chegou perto dela pra conversar e ela me chamou pra realizar a cambonagem daquele atendimento.
Dizia a mulher que tinham lhe mandado uma mandinga, que tinha certeza que haviam lhe feito algum trabalho do mal, pois na sua vida estava tudo dando errado.
E exigia imperativa saber que tinha lhe feito a macumba, e que fosse devolvido o feitiço.
Dona Maria Navalha disse: Samba empreste a essa malandrinha aquele espelho que está no altar aos pés daquela Santa.
Corri ao altar e busquei um espelhinho de mão que ficava aos pés da imagem de Oxum e entreguei a ela.
Ela virou a parte reflexiva pra atendente e disse: - Não queres tanto saber quem foi que te botou mandinga moça? Pois olhe atentamente e verás!
Confusa a consulente disse que a única coisa que via era ela mesma refletida no espelho.
- Pois quem te botou macumba foi você mesma. Pediu um emprego e só fazia corpo mole. Pediu um amor mas traia ele com todo perna de calça que via, pediu amigos mas se enrabichou com o perna de calça da amiga, quis uma família mas só faz fofoca, intriga, maledicência.
Tudo que a espiritualidade te faz com amor você devolve com ingratidão e maus hábitos.
Se a machada de Xangô tem dois fios, é porque dois lados tem a sua força. Se você tivesse sido grata, correta e agido pela prática do bem sua vida fluiria para bons caminhos mas vosmicê só faz coisa errada. Agora essa minha navalha não serve mais aos seus propósitos.
Todas as coisas boas e ruins de nossas vidas, moça, é resultado das nossas próprias ações. Lei do retorno não é falha como a lei dos homens. Ela funciona.
Ninguém fez trabalho nenhum pra essa moça, só ela mesma!
Era visível a vergonha no olhar da consulente. Lágrimas de dor e arrependimento.
"- Perdoe-me" pedia ela.
- Perdoe-se você mesma. Disse a Malandra, nada muda, se você não mudar!
Devolveu-me o espelho, guardou sua navalha e continuou em seu canto!

Salve a Malandragem

Por: Karla de Iemanjá.
Via: @papodesamba
Era um festum animado, muita música, os atabaques entoando sem cessar. Lá estava ela, num cantinho, com sua navalha numa mão, o cigarro aceso na outra. Até que uma mulher da assistência chegou perto dela pra conversar e ela me chamou pra realizar a cambonagem daquele atendimento. Dizia a mulher que tinham lhe mandado uma mandinga, que tinha certeza que haviam lhe feito algum trabalho do mal, pois na sua vida estava tudo dando errado. E exigia imperativa saber que tinha lhe feito a macumba, e que fosse devolvido o feitiço. Dona Maria Navalha disse: Samba empreste a essa malandrinha aquele espelho que está no altar aos pés daquela Santa. Corri ao altar e busquei um espelhinho de mão que ficava aos pés da imagem de Oxum e entreguei a ela. Ela virou a parte reflexiva pra atendente e disse: - Não queres tanto saber quem foi que te botou mandinga moça? Pois olhe atentamente e verás! Confusa a consulente disse que a única coisa que via era ela mesma refletida no espelho. - Pois quem te botou macumba foi você mesma. Pediu um emprego e só fazia corpo mole. Pediu um amor mas traia ele com todo perna de calça que via, pediu amigos mas se enrabichou com o perna de calça da amiga, quis uma família mas só faz fofoca, intriga, maledicência. Tudo que a espiritualidade te faz com amor você devolve com ingratidão e maus hábitos. Se a machada de Xangô tem dois fios, é porque dois lados tem a sua força. Se você tivesse sido grata, correta e agido pela prática do bem sua vida fluiria para bons caminhos mas vosmicê só faz coisa errada. Agora essa minha navalha não serve mais aos seus propósitos. Todas as coisas boas e ruins de nossas vidas, moça, é resultado das nossas próprias ações. Lei do retorno não é falha como a lei dos homens. Ela funciona. Ninguém fez trabalho nenhum pra essa moça, só ela mesma! Era visível a vergonha no olhar da consulente. Lágrimas de dor e arrependimento. "- Perdoe-me" pedia ela. - Perdoe-se você mesma. Disse a Malandra, nada muda, se você não mudar! Devolveu-me o espelho, guardou sua navalha e continuou em seu canto! Salve a Malandragem Por: Karla de Iemanjá. Via: @papodesamba
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